Valor ecológico e investimento financeiro – dilema ou incompreensão?

Para a humanidade compreender o valor ecológico, teve de recentemente criar um novo conceito a que a ciência chamou de “Serviços de Ecossistema”.
Nos últimos anos têm-se desdobrado estudos e amontoados cálculos que quantificam serviços como:
– Amenização da temperatura pelas árvores, (em mortes por calor com perda de valor produtivo e carga fiscal e em custos com doenças, direta ou indiretamente ligadas ao aumento de temperatura em sucessivas vagas de calor, mas também no sobre-consumo energético na amenização controlada da temperatura, em apartamentos, escritórios, fábricas e automóveis);
– Controle da erosão feita por árvores, (em vidas humanas e no seu contributo económico, em feridos, em reabilitações em obras públicas ou privadas de áreas erodidas ou sujeitas a deslizamento de terras, com casos extremos nos Açores e na Madeira);
– Purificação do ar pelas plantas, (em mortes e doentes pela contaminação atmosférica e na perda da sua contribuição ou do impacto económico do seu tratamento e perda de produtividade por doença);
– Estabilização de solo pelas plantas, (quantificado nos custos acrescidos em fertilizantes pela perda de fertilidade, logo produtividade da cultura com o lavar do solo para os rios, onde ainda acresce os efeitos de poluição na economia local e saúde das pessoas e no assoreamento destas vias fluviais);
– Proteção contra a seca e influência positiva no ciclo de chuvas das Florestas (com todos os custos em sistemas de armazenamento e irrigação de água de rega compensadores, tal como de extração por furos, mas também na perda de produtividade por morte de milhões de plantas e árvores em condições de stress, por isolamento e falta de densidade, em que o melhor exemplo é o sobreiro);
– Proteção contra os fogos no caso de galerias arbóreas dos rios, mas também de florestas biodiversas que atrasam a combustão do incêndio e permitem aos bombeiros e pessoas atuarem com muito maior eficiência, (calculada em todos os custos de perda de rentabilidade e de combate a incêndios, onde se inclui a perda ou dano a vidas humanas e bens patrimoniais);
– Captura de carbono pelas plantas, (calculado pela totalidade de custos com catástrofes climáticas e todos os seus danos e perdas de produtividade resultantes do aumento de temperatura provocado pelo aumento dos gases com efeito de estufa);
– Captura de contaminantes pelas plantas que os impedem de alcançar os rios ou os lençóis freáticos e os absorvem na sua biomassa, tornando-os disponíveis para bio-remediação (bio-degradação de poluentes em moléculas inócuas) por fungos, bactérias e protozoários presente nos solos sãos, (quantificado pelos danos provocados pela poluição de solos, poços e rios, com impacto na performance da economia local e na saúde das pessoas e todos os custos e perdas de produtividade resultantes);

Poderíamos continuar com exemplos que chegariam para escrever diversos tomos com centenas de páginas. Preferimos seguir para o exemplo de um setor do mercado que tem trazido um novo olhar, de contributo económico positivo e direto, dos serviços de ecossistema no negócio económico: O setor do Turismo de Natureza.

Para além das exceções abusivas que confirma a regra, o setor do Turismo de Natureza tem vindo a conceptualizar uma nova abordagem que compreende que o valor neto do seu serviço, seja de restauração, hotelaria ou ocupação ativa do tempo, cresce proporcionalmente ao valor ecológico envolvente à sua oferta. As pernoitas, as refeições e os passeios e atividades, refletem no seu preço a qualidade, a exuberância, a riqueza ecológica do espaço que acolhe a atividade económica do ser humano.

Turismo de natureza, não é turismo na natureza. Não são motores a poluírem as águas e a paz do ecossistema que os envolve, não são piqueniques semeadores de lixo, não é a destruição da flora desse espaço só porque é bonito passar ali. Isso é turismo na natureza, que lhe reduz o valor a cada passagem, porque reduz a qualidade ecológica que permite a plantas e animais terem condições de habitat para ali permanecer.

Turismo de Natureza é um turismo que captura os próprios resíduos contaminantes e os valoriza em energia ou fertilizante. É um turismo que compreende a relação entre energia limpa e qualidade do serviço turístico. É um turismo que vê no global dos serviços de ecossistema, o valor oportunidade do seu negócio, que cresce proporcionalmente ao crescimento do valor dos serviços de ecossistema da natureza que o abriga e sustém.

O Turismo de Natureza, no fundo, compreendeu e bebeu do caso de muit@s proprietári@s privados, que há várias gerações compreenderam a ligação intrínseca entre qualidade de vida, produtividade e rendimento pessoal e a qualidade assente na biodiversidade, logo riqueza, do ecossistema que abraçaram como sua casa e @s abraçou como sua mãe.

Foi destes proprietários anónimos que nasceram as primeiras soluções de coexistência produtiva com o Ecossitema que nos sustém e continua a ser destes que o Turismo de Natureza, tal como a Ecolução, continua a beber a sua maior fonte de inspiração.

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