Os sistemas ecológicos são regidos por um fervilhante sistema económico, baseados em duas principais divisas, que são o Carbono e o Azoto. A estas duas moedas francas, acrescentam-se várias mercadorias (commodities), como Potássio, Ferro, outros minerais e metais, fibras, ácidos gordos, proteínas, etc, que servem de matéria prima para um sem fim de transformações, principalmente manifestadas na forma de biomassa do agente que as transforma e incorpora.
Nestes sistemas económicos, encontramos também, explicado de forma muito simplificada, os vários sectores: 1) o primário com as plantas; 2) o secundário com os predadores das plantas e os seus predadores e o 3) terciário com os microorganismos altamente sofisticados decompositores dos predadores e predadores de plantas.
É neste sector, o terciário, que encontramos o serviço de Estado, a rede neural fúngica ou internet da plantas, que é a base das comunidades de plantas (fito-comunidades), que são a base da sustentação da vida em todo o planeta e dos restantes sectores secundário e terciário.
Esta rede neural fúngica concede às fito-comunidades a capacidade de vários sistemas estruturantes, com:
– Um sistema de educação que fornece às plantas informação permanente de como se devem adaptar à escassez, aos restantes elementos no seu crescimento, a ameaças externas, etc:
– Um sistema de proteção civil, em que são dados permanentes avisos sob ameaças como predadores, pragas ou fogo, induzindo as plantas em comportamentos como a perda súbita de folha com o aproximar de um incêndio;
– Um sistema de saúde, em que os próprios fungos transformam doações químicas das plantas e nutrientes disponíveis no solo em novos químicos que ajudam as plantas a combater doenças e parasitas;
– Um sistema de defesa, em que são fornecidos compostos que permitem às plantas por exemplo, apaziguar o agressor, como é o caso dos fitoncídas, mas também no bloqueio de emissões tóxicas na rede por parte de plantas infestantes, ou ainda, de adaptação às substâncias alelopáticas (herbicidas) por elas segregadas;
– Um sistema de transporte, através de imensuráveis km de hifas (os tecidos que se desenvolvem linearmente) de fungos, de divisas, mercadorias e recursos naturais, nomeadamente água e moléculas de gases;
– Um sistema de comunicação ultra-rápido, à velocidade de um impulso elétrico, entre plantas, que comunicam ora com os agentes da rede, os funcionários públicos, os fungos simbióticos ou micorrízicos;
As plantas pagam ainda um imposto, cerca de 30% em média, em que a gestão do contributo é feito num acordo entre a disponibilidade de recursos de cada planta, em divisas de carbono e azoto e as suas necessidade de commodities, as mercadorias nutrientes, na qual se acrescenta a água como recurso fundamental de progresso e prosperidade, como o é para nós. A própria rede faz uma gestão de trocas, com base no excedente de cada planta e a necessidade noutras, num mercado contínuo e claramente profícuo para todas as partes.
Temos neste sistema ainda os anti-sistema, o mais notável exemplo são as Nogueiras negras, que enviam toxinas para a rede, sempre que esta tenta agregar estes aglomerados de Nogueiras. Finalmente as vedetas de Instagram, as Orquídeas, que emitem pedidos de ajuda constante à rede, coitadas, mal folhas têm para a sua fotossíntese e assim conseguem enganar a rede e não contribuir em nada, apenas receber, em abundância para se porem belas a reluzir ao sol.
Todo o produto desta economia é assim entregue com sacrifício individual, ao bem maior, do Ecossistema, sendo este a base económica de trocas energéticas em todos os patamares acima na cadeia trófica até regressar ao decompositor, que alimenta a planta, que alimenta o seu predador.
Cada corpo de qualquer agente, é uma soma das divisas deste Ecossistema, agregados ao produto transformado das mercadorias que vão sendo geradas e multiplicadas a partir dos recursos naturais de Sol, Água, Solo e Vento. Cada agente ecossistémico é o seu próprio banco e rico por natureza, no permanente equilíbrio entre o produto da sua riqueza, que é a sua saúde, e a sua capacidade de renovação da riqueza que se vai gastando ao longo do tempo, à medida que busca por mais riqueza.
Esta incessante busca de riqueza, que traz saúde, que traz a capacidade de buscar nova riqueza é a forma pela qual os Ecossistemas se movem, uma vez que cada agente, na captação de riqueza, transforma-a na fábrica do seu corpo, disponibilizando nova riqueza ao seu ecossistema, nem que seja pelo mais desvalorizado sub-produto de sempre, que são as fezes de qualquer animal.
Nesta incessante busca de valor, os animais propagam uma vida inteira de sementes, de esporos, nutrientes e todo o tipo de agentes de grande capacidade tecnológica, que vivem nos reinos da microbiologia. Estas sementes e estes agentes, como também os nutrientes que vão disseminando compostos, inclusive a urina que é essencialmente água fertilizada, são a base do futuro dos produtores de divisas e mercadorias primárias, as plantas que irão sustentar as gerações futuras dessa cadeia trófica a que todos pertencem.
Em cada destino, da formiga ao sobreiro, do boleto ao lobo, todos os agentes da natureza só conhecem o pleno emprego. Todos contribuem diariamente para a criação de valor, com base numa troca assente em divisas e mercadorias, que cada agente progressivamente transforma e incorpora na sua própria biomassa, sendo cada um o seu principal bem, o seu banco e o seu hospital.
Ao longo dos últimos anos, à Ecolução, parece ser-nos dada a cada trabalho, a oportunidade de rever a informação que afinal, nós humanos, não inventamos nada. Apenas reproduzimos de um método universal no qual conseguimos funcionar, tal como qualquer outro bicho, planta ou micróbio. A nível tecnológico, estamos a milhões de anos de produzir processadores de informação biónicos, como os misteriosos nódulos nervosos nas interligações fúngicas, de forma muito semelhante à que ocorre no cérebro de qualquer animal.
Como poderemos quantificar a capacidade de painéis solares, em relação à capacidade de uma folha de recolher moléculas de ar com a energia do sol e de as transformar em biomassa, também combustível ou nutritivamente energética, com agregados moleculares altamente complexos?
Como poderemos comparar a obsolescência de uma etar química e mecânica, erguida em betão e todo o tipo de tecnologia dita de ponta, com a eficiência de uma planta a remediar os mesmo componentes com o custo de uma sementeira?
Essa é a consciência que nos acompanha, humilde e sagaz, de reconhecer que para qualquer problema, já há muito a Natureza encontrou a solução em todos os milhões de anos que nos supera em evolução e da qual somos criação e não criadores. A estrada da vida, sempre terá em si o mistério de tudo aquilo que nos ultrapassa. Esse mistério apenas confirma a natureza da nossa sagacidade, da nossa humildade em aceitar, o misterioso, mas abundante soma de exemplos do que resulta e do que não resulta.
Cumpre-nos a nós utilizar a inteligência, a energia e a integridade de quem compreende, logo aceita que a harmonia, a abundância, a prosperidade, são sempre mais perenes quanto o nosso contributo incluir todos e não deixar ninguém para trás, na nossa sociedade e no Ecossistema que nos sustém.
Fontes: