A gratidão como motor da mudança nos hábitos humanos que aceleram as Alterações Climáticas

Quanto mais informação, válida, fundamentada, recolhemos, mais desafiante se tornar a cada dia observar a realidade antropogénica tecendo-se em volta da sua distopia de contaminantes e delapidação contínua de todos os recursos naturais que apresentem serviços ao ser humano.

Curioso este animal reinante, que destrói a fonte dos recursos renováveis para se apoderar do recurso que na sua posse se torna inevitavelmente finito. Este é o verdadeiro anátema da humanidade. Revemos hoje o humano a erguer alto ao Deus Capital – o Deus de todo o valor, o seu poder sobre o recurso, como os antigos gregos erguiam um borrego degolado para oferecer aos Deuses.

Essa atitude, sobre o recurso natural, que a todos universalmente serve, tornou-se a sua maior maldição ou excomunhão do Espírito do Reino da Vida, que nos expulsa como um sistema imunitário a um parasita, de si, Planeta, Mãe de todos os seres vivos, incluindo o ser humano. Esse é o sentido de Anátema: A maldição que resulta na excomunhão da casa de Deus e que provém da palavra grega que ilustrava o sacrifício de um borrego, por parte de quem podia e usava esse poder para entrar nas graças dos Deuses.

A esta maternidade planetária de vida, o parasita trouxe-lhe a febre na forma de vagas de calor, espirros na forma de furacões, corrimento nasal na forma de enxurradas, suores na forma de dilúvios, desidratações na forma de seca severas, dentro de uma cadeia de eventos que nos retiram a nós humanos, dos padrões de habitabilidade neste planeta.

No padrão universal do micro ao macro, onde átomos reproduzem o comportamento de sistemas solares e galáxias o comportamento de espirais de vento ou água, aqui, no planeta Terra, temos um padrão de perpétuo reequilibro de forças entre famílias de agentes altamente cooperantes entre si. Esse padrão é aquele que o ser humano rompe de forma constante e disruptiva, deixando em condição crítica o nível de capacidade regenerativa do recurso.

A noção ecológica da proporcionalidade entre capacidade de auto-renovação do recurso natural e da quantidade da sua exploração, é uma noção demasiado abstrata para um modelo socioeconómico com tendência monopolista e quando necessário, sob a forma de cartel, que é afinal um monopólio partilhado. A confusão entre o fluxo da vida que visa a eterna expansão do universo e a eterna vontade de expansão do indivíduo sentido-se o centro do universo, é demasiado comum a nível da esfera do poder, para um só planeta aguentar.

A ecologia, é também ela uma economia de trocas de valor entre agentes ecossistémicos, em que cada um sabe perfeitamente o seu lugar e estão todos sem exceção empregados. Sempre que alguém se agiganta, algo sempre tem chegado para o tombar, sejam virús, meteoritos ou alterações climáticas surgidas com eles. As extinções em massa do passado são a nossa projeção para o futuro, quanto mais breve quanto nos mantenhamos de olhares virados para nós próprios como o centro de gravidade a que o Planeta deve obedecer.

Sabendo isto, qual a estratégia mais natural para a mudança global? Sem respostas para um debate tão denso, quanto vasto, por aqui, a Ecolução escolhe a gratidão. A gratidão por estar colocada para a cada dia fazer a pequena diferença que na soma das outras produz a mudança com que sempre fomos confrontados, quer na história humana, quer na história natural.

A gratidão é um recurso infinito, de valor imensurável, disponível a qualquer um, a qualquer momento. Gratidão pela besta que passou pela nossa frente e nos relembrou da humanidade em pandemia de desconexão do sentido da vida, que por sua vez nos relembra da importância do nosso trabalho na produção de mais fitoncidas (fragâncias emanas pelas árvores que suscitam sentimentos de paz e bem-estar), na produção de mais oxigénio para ajudar a respirar melhor quem permanece engasgado no seu próprio mal-estar para com a vida.

Quem permanece grato por cada experiência, as mais simpáticas e as outras mais modificadoras, reproduz a sentimento natural de cada bicho sempre que ultrapassa uma ameaça ao seu bem estar naquele habitat, mas também sempre que alcança um objetivo de alimento, abrigo ou unidade com outro bicho da sua espécie. Esta paz dos bichos, é a paz de uma pessoa grata. Este saber continuar e deixar a ameaça para trás, sem ressentimento, antes gratidão por se sentir certa na sua direção, é o recurso fundamental para que cada animal apenas gaste tempo com aquilo que tem de fazer a cada momento, sem distrações com eventos passados ou futuros.

A gratidão, no fundo, devolve-nos ao momento de viver. Dá-nos consciência do tempo. Do tempo que dedicamos entregues ao nosso serviço e missão e do tempo que dedicamos à distração. Quanto mais distração, maior a necessidade de esquecer o presente, no seu vazio de sentido, que é desconhecido para qualquer outro agente da vida dos ecossistemas, pois permanecem focados em tirar o máximo do momento presente.

Então, se a gratidão nos devolve ao momento presente, devolve-nos ao sentido da vida que tudo aquilo que desejamos ser e fazer, se produz naquilo que fazemos no momento presente. Nutrição, repouso, contribuição, união, contemplação. É por estes objetivos que se movem as espécies no seu desenvolvimento e colocação no ecossistema enquanto espécies. É neste foco que permanece a pessoa grata, consciente, ativa, consequente: não alinhada com a agressão, alinha com a melhor ação com que contribui para o seu ecossistema a cada instante.

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